sábado, 20 de maio de 2023

Patagônia Express

Foi difícil decidir se eu iria para a Patagônia com uma agência ou por conta própria. Pesquisei diversos roteiros nas agências de aventura com que costumo viajar (Pisa Trekking e Venturas) e também na Freeway, mas não encontrei nenhum que eu quisesse fazer, na data que eu teria férias e por um valor que eu estava disposta a pagar. Todas as agências ofereciam ótimas opções até o final de abril, quando termina a temporada de verão, mas minha viagem seria na primeira semana de maio. 

Portanto, minha primeira dica para ir para a Patagônia é que você vá entre os meses de Outubro e Abril, quando há mais opções de passeios e quando o clima está melhor para poder aproveitar as vistas e trilhas que a região oferece. No meu caso, acabei decidindo organizar a minha própria viagem, o que, além de dar um pouco mais de trabalho, talvez pudesse ser otimizada caso eu fosse com alguma agência.

O planejamento

Minha intenção era ir para a Patagônia Argentina e Chilena, sem passar pelo Ushuaia (que considerei muito frio para a minha pessoinha). O melhor roteiro que eu encontrei para o que eu queria era o Patagônia Express, da Pisa Trekking, que ficava dois dias em El Calafate (Argentina) e um dia em Torres del Paine (Chile), mas não era oferecido na data em que eu iria viajar. Então, decidi fazer o mesmo roteiro sem a ajuda da agência. 

A passagem foi fácil decidir. A Aerolíneas Argentinas estava com uma tarifa muito boa para o mês de maio, com um tempo total de viagem de 8h, o que era muito menor que os demais voos. Paguei aproximadamente R$ 2000 (incluindo taxas) para ida e volta de São Paulo a El Calafate, com conexão de 2 horas em Córdoba, o que é bem melhor que a conexão em Buenos Aires, que requer uma troca de aeroporto. Os únicos pontos negativos foram que, na ida, tivemos que retirar a mala e despachar novamente em Córdoba, e que praticamente passamos fome, pois a companhia aérea só nos deu um lanchinho no voo entre São Paulo e Córdoba e um amendoinzinho no voo de Córdoba para El Calafate. Mas dá tempo de comer alguma coisa no aeroporto durante a conexão, então ficou tudo certo. 

Também havia pesquisado a opção de ir pela Argentina e voltar pelo Chile, considerando que o trecho entre El Calafate e Torres del Paine também era bem longo. Mas as tarifas aéreas estavam muito mais caras, então decidi ir e voltar por El Calafate e, de lá, ir e voltar para Torres del Paine. 

No caso da hospedagem, reservei pelo booking.com, os três primeiros dias em El Calafate no Hotel ACA El Calafate, dois dias em Torres del Paine no Hotel Lago Grey e mais um dia em El Calafate, no mesmo hotel, antes de retornar a São Paulo. 

O hotel de El Calafate é um três estrelas com o melhor custo-benefício. Super bem localizado, bem decorado e com um ótimo atendimento. As quatro noites custaram R$ 1000 para duas pessoas. Já o hotel de Torres del Paine era outro patamar... como iríamos ficar apenas um dia inteiro por lá, escolhemos um hotel boutique dentro do Parque Nacional, e as duas noites saíram por R$ 2000 para duas pessoas. É bem mais caro, mas de vez em quando podemos nos dar esse luxo, não é mesmo? Além disso, os funcionários são extremamente atenciosos, e o próprio hotel possui diversos passeios e trilhas, que podem ser contratadas à parte. Então valeu super a pena. 

Quanto ao roteiro, como sempre, pesquisei no blog Viaje na Viagem e encontrei dois posts super completos sobre El Calafate e Torres del Paine. E a primeira coisa que li neste blog foi que não valia a pena alugar um carro para ir de El Calafate para Torres del Paine, pois as estradas quase não tinham postos de gasolina e teríamos que passar na imigração sozinhas. Como estávamos só eu e minha irmã e nenhuma de nós estava morrendo de vontade de dirigir, preferimos tentar outras formas de locomoção.

Foi aí que o meu planejamento ficou complicado... Perguntei nos dois hotéis que eu havia reservado como poderíamos chegar de El Calafate ao hotel de Torres del Paine, e basicamente a única forma nesta época do ano era alugar um carro (que já havíamos descartado) ou contratar um transfer. Mais uma vez, viajar fora da temporada dificultou um pouco as coisas, pois muitos ônibus não operavam ou operavam apenas em alguns dias específicos da semana neste período.

Fizemos a cotação do transfer em algumas empresas recomendadas pelo hotel e o valor era no mínimo R$ 4000 ida e volta, para duas pessoas, de hotel a hotel. Ou seja, o mesmo valor que havíamos pagado na passagem de avião de São Paulo a El Calafate! Sendo assim, esta opção também foi descartada. A solução foi pegar um ônibus de linha de El Calafate (Argentina) até Puerto Natales (Chile) e contratar o transfer da 4x4 Patagônia (WhatsApp: +569 9731 5866) de Puerto Natales até o Hotel Lago Grey, totalizando R$ 1600 ida e volta para duas pessoas (ônibus + transfer). 

As passagens de ônibus comprei pelo site Busbud, pois acabou sendo mais fácil do que comprar separadamente a ida e a volta em duas empresas de ônibus distintas. Para ir de El Calafate a Puerto Natales, fomos pela Turismo Zaahj e, para voltar, pela Bus-Sur (muito melhor em termos de conforto, e eles dão até um café solúvel e uma barrinha de cereal durante a viagem). Mas nesta época a Bus-Sur não fazia o trajeto de ida no dia da semana que gostaríamos, então tivemos que variar. 

A viagem dura no mínimo 5 horas e vai da rodoviária de El Calafate até a rodiviária de Puerto Natales. Há três paradas em cada percurso, uma num posto de gasolina e duas na imigração argentina e chilena. Na ida, ainda temos que descer com as mochilas para passar no Raio-X e um labrador entra dentro do maleiro do ônibus para "revistar" nossa bagagem. Na volta, temos apenas que mostrar nosso passaporte e ganhar um carimbo. Nestes momentos eu fiquei bem feliz por não estar fazendo tudo isso sozinha, a bordo de um carro alugado e sem conhecer o processo. Quando chegamos em Puerto Natales, o transfer estava nos esperando para mais duas horas de viagem de carro até Torres del Paine, na maioria em uma estrada de terra.

Por fim, os passeios... Em Calafate reservei os dois dias pela Patagonia Dreams (que eu encontrei pelo Trip Advisor), um dia para o Glaciar Perito Moreno e o outro para a cidade vizinha El Chaltén. Gostaria de ter ido também em um outro passeio para o Glaciar de Upsala, mas achei que seria "mais do mesmo", pois em Torres del Paine eu iria conhecer outra geleira. Além desses dois passeios, também contratei o transfer do aeroporto ao hotel de El Calafate pela Patagonia Dreams (ida e volta). 

Os passeios de Torres del Paine fiz pela própria agência do Hotel Lago Grey, que oferece várias opções de trilhas light ou mais avançadas, além da navegação pelo Lago Grey, que saem do próprio hotel. Para chegar ao hotel, é necessário comprar o bilhete do Parque Nacional Torres del Paine, que pode ser adquirida antecipadamente pelo site do CONAF por USD 35 ou diretamente na entrada do Parque por USD 40. Claro que eu comprei antes e fui com todo o roteiro super planejado.

Outra opção de passeio bastante típica é o City-tour-de-parque (como denomina Ricardo Freire nesse post), que sai de Puerto Natales e passa por vários mirantes e pontos turísticos do Parque Nacional. Mas, como já estávamos dentro do Parque, este tour também ficará para a próxima viagem que farei para a Patagônia. No verão, claro. 


A viagem

Depois de muita espera e muito planejamento, finalmente chegou o dia da viagem! 

Como o roteiro durou apenas uma semana, praticamente foram dois dias para ida e volta de avião entre São Paulo e El Calafate (Argentina) e mais dois dias para ida e volta de ônibus + transfer entre El Calafate e Torres del Paine (Chile). Os outros três dias foram de passeios, dois em El Calafate e um em Torres del Paine.


Patagônia Argentina

O primeiro passeio começou em grande estilo. O Perito Moreno é sensacional, é um mar de gelo sem fim, que ao mesmo tempo assusta e impressiona. São 30 km de comprimento e de 50 a 70 metros de altura. 

Fizemos a navegação para apreciar a geleira de baixo e depois a caminhada pelas passarelas, para apreciar a geleira de cima. Há também um passeio em que você usa botas de neve e caminha pela geleira, mas não nos interessamos muito. Quem fez, porém, diz que é muito legal e que no final você ainda pode tomar um whisky com gelo retirado "da fonte". 



No segundo dia fomos para El Chaltén, a capital do treking argentino. Há inúmeras opções de trilhas, mas como estávamos fazendo um roteiro express, preferimos uma trilha de 8km (ida e volta) que vai até a Laguna Capri e dura aproximadamente 3 horas. De lá, temos uma vista impressionante dos picos Fitz Roy e Cerro Torre, mas eu diria que a vista é impressionante durante toda a caminhada.



A Patagônia Dreams foi super organizada, os guias eram legais e a turma bem tranquila também. Durante o trajeto, nos dois dias de passeio, pudemos observar ovelhas, guanacos (um tipo de lhama) e choiques (uma ave cinza, tipo um avestruz). Aliás, os guias contaram várias histórias sobre a superpopulação de guanacos que ocorreu por causa da extinção dos pumas: como os pumas atacavam as criações de ovelhas, os fazendeiros começaram a matá-los. Mas como eles eram tanto predadores de ovelhas quanto de guanacos, isso fez com que a região se transformasse na "guanacolandia". 😂 

Também tivemos uma boa amostra do clima patagônico. Apesar de estarmos no outono, já estava bastante frio para o meu padrão (de zero a 5 graus, aproximadamente). O vento sempre esteve presente, o que fazia com que ficasse ainda mais frio. A Patagônia Argentina é uma região bem seca, praticamente desértica, portanto capriche no hidratante e na manteiga de cacau quando for fazer a mala. 

O centrinho de El Calafate também merece várias visitas, e neste ponto o nosso hotel foi super estratégico, pois podíamos fazer tudo a pé. A Avenida del Libertador possui muitos restaurantes, cervejarias e lojinhas de souvenier. Também há diversas lojas de alfajor e de chocolate artesanal que valem a pena uma degustação, além da geleia de calafate, uma frutinha típica da região, que parece um mirtilo e que dá o nome à cidade. 

Quanto aos restaurantes, os que mais gostamos foram La Tablita e La Lechuza, ambos na avenida principal. No La Tablita, provamos o típico cordeiro assado (apesar de morrer de dó de vê-los estirados nas vitrines dos restaurantes) e no La Lechuza comemos uma deliciosa empanada argentina de entrada e uma massa recheada com carne de cordeiro (de novo!) ao molho pesto. Hummmmmm... 


Patagônia Chilena

A Patagônia Chilena possui um clima bem distinto da Patagônia Argentina, pois o lado oeste da Cordilheira dos Andes recebe um pouco mais de umidade do Oceano Pacífico. Sendo assim, a vegetação é mais verde comparada ao lado argentino, que é bem mais seco.  

Em compensação, o vento patagônico é o mesmo tanto na Argentina quanto no Chile! Ele vem do Oceano Pacífico e canaliza pela Cordilheira dos Andes, possibilitando a mesma "experiência" nos dois lados. No dia em que chegamos no Hotel Lago Grey, praticamente nem conseguimos sair ali de dentro, pois o vento chegava a 90 km/h. Nos disseram que no verão ele é ainda mais intenso, mas confesso que cheguei a ficar até com medo de cair uma árvore em cima do nosso teto, de tão forte que estava. 

Por causa desse vento, nossa navegação pelo Lago Grey ficou em risco, e só no horário da saída o comandante deu a aprovação de que era seguro. Mas não pudemos ficar do lado de fora do barco durante a navegação, somente quando estávamos parados ou navegando lentamente perto das geleiras pudemos sair, e mesmo assim achei que eu sairia voando de tão forte que estava o vento! 

A vista do Glaciar Grey também impressiona. O barco passa pelas 3 "línguas" de gelo, que escorrem entre as montanhas. Mesmo assim, esta geleira é um pouco menor que o Perito Moreno, possuindo 15 km de comprimento. O passeio dura em torno de 3 horas, e para chegar ao local de onde sai o barco, é preciso caminhar meia hora pela areia, sempre com muito vento. 



O Hotel Lago Grey fica bem de frente para o Lago Grey, e do restaurante podemos avistar o barco atracado e uma das línguas da geleira de longe. Quando o tempo está bom, também vemos os picos em formato de chifre chamados Cuernos del Paine. Já as três torres pontudas de granito só podem ser visualizadas do outro lado, através de trilhas ou do city tour de parque. 

No período da tarde, fizemos uma trilha leve, de 4 km (ida e volta) chamada Sendero Misceláneo. Este passeio também sai do hotel e no caminho tem até um lanchinho de queijos e frutas, enquanto apreciamos a vista lá de cima.  



No dia seguinte, já era hora de partir para El Calafate e depois para o Brasil... e apesar do frio e do vento, a Patagônia é um lugar que merece uma visita, principalmente para quem curte natureza. As paisagens são lindas, tanto do lado argentino quanto do lado chileno, a água dos lagos é muito azul (principalmente quando tem sol) e as geleiras são a cerejinha do bolo, algo único da região.