quarta-feira, 31 de março de 2021

Solo Travel

Mais uma vez fui inspirada pelo Zero to Travel Podcast, que publicou um episódio chamado Joys of Solo Travel, ou na tradução literal, a alegria de viajar sozinho. E claro, não poderia deixar de pensar nas minhas próprias viagens "solo"... 

Meus pais nunca foram de viajar muito, então tive que aprender a viajar sozinha desde cedo. Me lembro de ter viajado apenas duas vezes em família, para Caraguatatuba, aos 2 anos de idade, que foi a primeira vez em que fui à praia, e para a ilha de São Francisco do Sul, em Santa Catarina, já na adolescência. Todas as outras viagens foram com minhas irmãs, com amigos ou com a família das minhas amigas de infância. Apesar de não ter herdado o gene das viagens dos meus pais, fui picada pelo "bichinho" desde cedo. Sempre gostei de mapas e de imaginar como seriam todos aqueles países... Não me lembro de ter tido medo em nenhuma das vezes. Acho que minha vontade de conhecer os lugares sempre foi tão grande que eu nem pensava no que poderia acontecer! 

Não sei dizer exatamente qual foi a primeira viagem que fiz sozinha sozinha. Me lembro de ter ido de vela com a minha irmã mais velha em sua viagem de lua de mel, quando tinha apenas 7 anos de idade. Fomos para Vila Velha, no Paraná, e para algumas praias em Santa Catarina, como Camboriú e Bombinhas. Minha outra irmã também me levou, aos 9 anos de idade, para conhecer o Rio de Janeiro, que era meu sonho de infância. Fomos de ônibus, sem lugar pra ficar e sem documento, e tive que chorar para o policial do juizado de menores me liberar. Mas... nos anos 90, tudo isso era permitido! 

Também nos anos 90, quando eu tinha apenas 16 anos, fui novamente para a ilha de São Francisco do Sul passar as férias com uma amiga que tinha conhecido no ano anterior, quando fui pra lá com a minha família. Nos correspondemos por carta durante um ano (sim, daquelas que eram enviadas via Correios, em que a gente lambia o selo e o envelope...) e no verão seguinte ela me convidou para ficar na casa dela. Fui de ônibus sozinha até a casa da minha irmã em Curitiba, de lá peguei outro ônibus direto para a ilha. Da rodoviária local, andei mais meia hora com a mala pesada até chegar na casa dela que, em uma era anterior ao Google Maps, só poderia ser encontrada perguntando aos poucos pedestres que passavam pela rua às 6h da manhã, horário em que havia chegado. 

Foi durante essa mesma viagem que meu terceiro sobrinho nasceu, prematuro de 7 meses. A casa não tinha telefone, o celular ainda não existia, então minha mãe ligou para um vizinho e deixou o recado de que eu havia sido tia novamente. Preocupada, enfrentei uma fila de mais de 1h para conseguir ligar para casa de um orelhão. Ah... como a tecnologia deixa as viagens bem mais simples hoje em dia! Sinceramente, nem sei como eu tinha coragem de encarar tudo isso com aquela idade e sem os recursos que temos hoje em dia. 

Voltando às viagens... Logo veio a fase dos intercâmbios. Desde pequena, comecei a estudar Inglês e Espanhol, e sonhava em viajar para ficar fluente nesses idiomas. Meu desejo se tornou realidade quando uma família americana me convidou para passar um ano na casa deles, aos 17 anos. Foi a primeira vez na vida em que viajei de avião. Sozinha, até Seattle, com conexão em Los Angeles. Depois que quebrei essa barreira, tudo se tornou mais fácil. Morei mais duas vezes no exterior, as duas na Espanha. A primeira, para fazer um estágio quando terminei a faculdade, e a segunda, para fazer um MBA posteriormente. Mas, nessa época, eu já era uma viajante experiente... 

Mas a primeira vez que viajei solo mesmo, foi quando fui de férias para a Argentina. Aproveitei que tinha uma amiga morando em Buenos Aires, passei uma semana na casa dela e depois fiquei mais uma semana em Bariloche, em um hostel. Bem diferente das típicas viagens de brasileiros, que vão a esse destino para esquiar, com um pacote fechado de uma agência de viagens e dormindo em um hotel confortável. Foi uma viagem espetacular! Conheci muitos argentinos e israelenses no hostel, fiz o maior sucesso com as minhas botas de cano alto em um pub onde ia diariamente, fiz passeios fora da rota dos mauricinhos e patricinhas do Brasil e me diverti muito, mas muito mesmo! Andei a cavalo, de bicicleta, moto de neve, teleférico, quadriciclo... Tudo menos de esqui! 

Outra viagem que fiz sozinha e que me marcou bastante foi para o Canadá, já em 2016. Essa era uma viagem que estava planejada desde a época do meu intercâmbio, pois a cidade em que morei nos EUA ficava a 2h de Vancouver. Aproveitei para visitar a minha família americana, de lá fui para Vancouver (de carro) e depois para a costa leste do Canadá (de avião), para conhecer Montreal, Quebec e Toronto. Foi nessa viagem que cheguei a uma das conclusões que tenho sobre viajar sozinha. Mesmo quando você viaja sozinha, nunca está sozinha. Depois de planejar minha viagem, descobri que tinha amigos em todas as cidades que iria visitar. Além dos amigos que fiz no albergue, nos passeios, e os amigos dos amigos que me levaram para passear sem nem sequer me conhecer. Quando você começa a viajar com frequência, tem amigos em todo o mundo, e cada viagem é um pretexto para encontrá-los. 

Mas não é para qualquer destino que gosto de viajar sozinha. Eu não iria para a Disney sozinha, por exemplo. Acho que esse seria um lugar que eu iria querer compartilhar minha diversão com alguém. Por este motivo, acabei não indo até hoje, pois nunca deu certo de alguém querer ir para lá na mesma época que eu. Os Estados Unidos, com exceção de Nova York, não é um país que curto visitar sozinha. Tudo é longe, dependemos muito do carro, e os hostels não são tão populares. A Europa, em compensação, é o melhor destino para as viagens solo. Os hostels são excelentes, os países são seguros, todos os passeios são feitos a pé ou de transporte público e o trajeto entre as cidades pode ser feito de trem. Além de tudo isso, as cidades contam com uma ótima infraestrutura de turismo, com escritórios gratuitos, mapas e dicas, inclusive nos hostels, dispensando qualquer guia ou pacote de viagens. 

Às vezes me perguntam por que (e como) eu gosto de viajar sozinha. Acho que tudo começou com a vontade de não precisar depender de ninguém, com não querer perder uma oportunidade de viajar. Adoro viajar com minhas amigas, e tenho ótimas companhias com quem sempre viajo. Mas nem sempre conseguimos conciliar as datas das férias, ou nem sempre elas querem ir para os mesmos destinos que eu. E não é porque ninguém pode ir comigo que vou deixar de ir para onde tenho vontade, certo? Além disso, muitas vezes combinei viagens de trabalho com viagens de lazer, ou visitas a amigos com outras viagens a lugares próximos, sozinha. Sempre tem um pretexto, uma oportunidade. 

E a maior vantagem de viajar sozinha é poder decidir tudo na hora, sem precisar fazer muitos planos, pois você não precisa de mais ninguém pra participar da decisão. Sempre fui uma pessoa planejada, mas quando viajo sozinha, prefiro definir o roteiro no local, depois de conversar com as pessoas de lá, ou ainda aproveitar para acompanhar os planos de alguém que acabei de conhecer. E essa conexão com as pessoas é o maior trunfo das viagens solo. Quando estamos sozinhos, estamos muito mais abertos a conhecer gente nova, sejam os locais ou demais turistas. Adoro conversar com as pessoas, saber suas histórias, suas preferências de passeios. E falar outros idiomas também facilita muito esta interação. 

Se tem desvantagens? Tem algumas sim. No meu caso, sinto muita falta de conversar com alguém quando estou comendo em um restaurante, por exemplo. Ainda acho meio deprimente sentar em uma mesa sozinha, sem ter com quem compartilhar a comida e as impressões da viagem. Mas, hoje em dia, podemos nos divertir com o Wi-fi do restaurante e contar com a companhia virtual dos amigos que estão longe. Outro momento em que dá saudade de ter uma companhia é quando acontecem os perrengues e você não tem mais ninguém pra te ajudar a sair daquilo. Às vezes, dá até vontade de chorar, e tudo o que você quer naquele momento é o colo da sua mãe e uma cama quentinha. 

Então, pra terminar esse textão, deixo aqui a minha receita para viagem solo:
  1. Fique em um hostel. Este é o melhor lugar para conhecer pessoas e não ficar sozinha durante todo o tempo. Se você não curte ficar em quartos compartilhados, muitos hostels possuem quartos individuais com banheiro, por um preço bem mais barato que os hotéis. Na Europa, o site Famous Hostels (famoushostels.com) possui apenas um hostel por cidade, e é um tiro certeiro. Já fiquei em vários e foram os melhores em que já estive.  
  2. Converse com as pessoas. Pode ser o garçom, o recepcionista do hostel, ou os turistas que você encontrou em um passeio... esteja sempre aberto para as novas amizades. Fale sobre os pontos turísticos que você quer conhecer, conte sobre o seu país, conheça a cultura dele, as viagens que ele já fez. Cada vez que converso com alguém sinto que meu mundo se amplia de alguma forma.  
  3. Esteja seguro. Tenha acesso à internet (pode ser apenas o Wi-Fi do hostel e dos restaurantes, ou se necessário, compre um chip de dados local). Leve um cartão de crédito para emergências. Avise sua família onde você está. Pergunte no hostel sobre os horários em que é seguro caminhar pelas ruas ou pegar transporte público. Tenha sempre um mapa acessível (em papel ou baixado no celular). Cuide dos seus documentos e do seu dinheiro. 
  4. Compartilhe sua viagem. Pode ser um diário, uma mensagem para os amigos, um post, story ou live. Inclusive este blog surgiu quando resolvi compartilhar o diário que escrevi durante minha viagem à Itália! Além de se sentir próximo dos amigos, vai ajudar a superar os momentos em que se sentir sozinho. 
  5. Planeje, pero no mucho. É importante pesquisar sobre o lugar que você vai, até para definir quantos dias quer ficar em cada destino e para identificar os passeios que você não pode perder de jeito nenhum. Mas reserve um tempo livre para decidir na hora. Sinta o lugar e deixe que ele te leve para onde você estiver a fim naquele momento. 
  6. Aproveite a cultura local. Experimente as comidas típicas, faça um pouco de tudo o que o lugar tem a oferecer. Ande de transporte público, vá em um restaurante famoso, assista a um espetáculo de música, visite um museu. Conheça a praia, o centro histórico, a natureza, o mercado. Compre um souvenier, uma roupa ou peça de decoração para lembrar do lugar. Assim você vai ter uma experiência completa e poder dizer que realmente conheceu o lugar.    
  7. E... por fim, tire muitas selfies! Na minha opinião, as selfies foram inventadas por quem viaja sozinho. Eu tirava selfie desde quando ainda não existia câmera no celular, e eu virava a câmera sem saber o que iria sair. A foto abaixo é um desses exemplos, e a parte do rosto cortada é o seu maior charme...


quinta-feira, 4 de março de 2021

Conexão com os locais

Faz tempo que não passo por aqui! 

Mas esses dias descobri um podcast de viagem chamado The Thoughtful Travel Podcast, e o primeiro episódio que ouvi falava sobre as experiências com os habitantes locais dos lugares que visitamos. O episódio conta histórias incríveis de amizade, de admiração e de conexão com as pessoas. E claro que ouvindo isso eu também me lembrei de algumas experiências marcantes que tive com os locais durante as minhas viagens. 

Adoro conversar com as pessoas! Então para mim, me conectar com os locais faz parte da minha rotina turística. Taxistas, recepcionistas do hotel, garçons, guias de viagem... todos eles têm muitas coisas para contar, e além de conhecer mais sobre a cultura do lugar, também fico sabendo sobre as histórias de vida dessas pessoas, que são sempre interessantes. 

Me lembro muito bem quando fui para Isla Margarita, na Venezuela, e o nosso guia nos contava sobre como o Chavez acabou com o turismo daquela ilha, fazendo com que companhias aéreas cancelassem seus voos diários, hotéis fechassem as portas e empresários como ele desistissem dos seus negócios. Ou ainda, quando fui a Buenos Aires e aprendi sobre a nova cobrança de energia elétrica implantada por Macri, logo quando ele assumiu a presidência. Antes do seu governo, os argentinos pagavam uma taxa de energia irrisória, que ocasionou diversos rombos na economia. Por isso, eles nem consideravam a cobrança adicional como injusta, e sim como uma taxa devida pela população. 

Diversas vezes visitei um país durante suas eleições presidenciais, o que, para o turismo, não é tão interessante, pois todos os lugares ficam fechados, e ainda por cima tem lei seca. Foi assim quando fui para o Uruguai em 2009, na eleição de Mujica, e também para o Chile em 2017, no primeiro turno das eleições que posteriormente colocaram Sebastián Piñera no poder, após o governo da socialista Michelle Bachelet. Ah, e eu sempre perguntava a todos com quem conversava em quem eles iriam votar, para conhecer os diferentes pontos de vista da população.

Mas não é só por política e economia local que eu me interesso. As histórias das pessoas são sempre as mais interessantes! Pergunto se elas sempre viveram naquele lugar, de onde elas vieram ou quanto tempo faz que trabalham com aquilo... quero saber se aquele é um bom lugar para se morar e se a qualidade de vida é boa... Alguns me contam até quanto ganham, embora eu nunca tenha feito essa pergunta diretamente. 

Ouvi muitas histórias de gente que deixou a família do outro lado do país (ou do mundo) para tentar uma vida melhor. Em Porto de Galinhas, por exemplo, o dono da pousada era um paulistano que, após cansar de viver estressado trabalhando no mercado financeiro, decidiu repentinamente se mudar com a família para lá, sem muito planejamento... ou os jovens habitantes de São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte, que saíram de São Paulo, Minas ou Paraná para aproveitar as oportunidades daquela cidade, seja como médicos, arquitetos ou engenheiros trabalhando com energia eólica. 

Essa viagem foi um capítulo à parte... Eu e minha amiga ficamos em uma pousada do irmão da amiga da prima, sabe? Ele era um ex-bancário curitibano, que largou seu emprego estável em uma cidade grande após passar férias lá e se encantar com o local. Plantou melão, abriu um bar e uma pousada e foi ficando... Nos levou a várias festas durante nossa estada e nos apresentou aos seus amigos, todos com alguma história bem parecida. Ficamos impressionadas com o quanto aquelas pessoas amavam a cidade, com apenas 10 mil habitantes. Inclusive, a taxa de crescimento demográfico de Gostoso é uma das maiores do Brasil. Depois de uma semana já éramos conhecidas em toda a cidade e estávamos nos sentindo locais! E claro, com vontade de largar tudo para ir morar lá também.  

Outra história que me marcou muito foi em um passeio de boia-cross que fiz nos Lençóis Maranhenses. Eu e uma outra amiga íamos deitadas na boia, mas como a correnteza não estava tão forte e o rio era raso, dois meninos nos acompanhavam durante o passeio, andando dentro do rio e empurrando nossas boias, para que elas fossem orientadas rio abaixo ao invés de encalhar no barranco. Fiquei morrendo de dó daquele trabalho, porém conversando com eles, percebi que eram muito felizes com o que faziam. Durante o passeio, vimos várias lavadeiras lavando suas roupas no mesmo rio que nos levava, cercadas de suas crianças, que vibravam e nos davam "tchau" enquanto passeávamos tranquilas.

Os meninos também nos contaram que havia sido seu irmão quem inventou aquele passeio. Ele era um professor da escola da cidade, e mesmo sendo deficiente físico, era uma das poucas pessoas com mais alto grau de estudo daquela região. Fiquei encantada com aquele estudioso e empresário visionário que, mesmo sem muitos recursos, conseguia se motivar e passar muitas coisas interessantes para a população. Definitivamente este passeio mudou meu olhar para a vida!

E eu poderia me lembrar de muitas outras histórias que vivi durante minhas viagens, que me aproximaram da cultura local. Sempre acho todas elas super interessantes e que aumentam minha bagagem com algo que o dinheiro não compra e que os blogueiros de viagem não contam. Para mim, essas são as melhores lembranças das minhas viagens!